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  • Foto do escritor: Gabriel Diego Medeiros
    Gabriel Diego Medeiros
  • 23 de mai.

O estranho que habita o familiar. O inconsciente apontado por Freud há mais de cem anos e sem dúvidas, ou talvez cem, vem implicando. Em uma análise fala-se de conteúdo amplo, busca-se por múltiplos fatores que vem de relações consigo mesmas, da vida, do cotidiano, do trabalho, das relações amorosas. Daquilo que dói, daquilo que toca, daquilo que amarra, daquilo que marca.


Marcas de sofrimento, inquietude. Será que tá tudo bem? Desconfia-se. Rápido? O convite é divagar e as vezes é devagar que se divaga. Caminhos ainda não vistos, como quem abre um mapa antes obscuro; a demanda aparece. O inconsciente não cansa até ser escutado, diria Freud.

Não, não tem raio-x, não tem medicamento pra angústia, senão a palavra que faz transformação. Há alívios, descargas de tensão, de mal-estares. Uma análise está para seu tempo, sua história, sua época, sua ética, sua escuta. Assim, repercute. Sujeito sozinho nada faz, desde o início há que se ter quem o cuide, é o rumo à independência que se busca, já diria o psicanalista Winnicott. Analista é esse que cuida e que localiza em seu horizonte a subjetividade de sua época, parafraseando Lacan, outro grande psicanalista.

E para além desse efeito terapêutico e das vinhetas sociais que nos marcam, há que se dizer que uma análise trata também sobre o reconhecimento desse estranho que habita em mim, em ti, em nós. Que chega coberto de razão e tão logo descobre-se. E que laços da pra fazer a partir desse(s) nós é que se brinca numa análise. Brincar é coisa séria. Fruto de liberdade de criação, é por si mesmo terapia, que quando nasce é árvore. Respira!

Numa análise é possível colocar uma luz sobre aquilo que faz com eu seja eu, singular, e tão difícil de bancar, marcado o tempo todo, por tantos outros. Reconhecer o próprio tempo é potência de compreensão que o tempo do relógio não é o tempo da vida. A produção de rupturas bancando algo que faz toda a diferença em mim, é disso e de um tanto mais que só no divã pra saber. O preço dessas talvez não seja tão claro, porque não é #gratiluz, sabe? Mas uma coisa é certa: Ninguém sai mais pobre de uma análise.

 
  • Foto do escritor: Gabriel Diego Medeiros
    Gabriel Diego Medeiros
  • 23 de mai.

Um afeto comum a todo ser humano, que quando ultrapassa um certo limite do aceitável, difícil de controlar, se torna um problema e sua causa deve ser investigada. Lidamos mal com o ciúme pois toca em modos de ser que repudiamos. Freud fala em três tipos de ciúmes: ciúme esperado, ciúme projetado e ciúme delirante.


No ciúme esperado há a suspeita de uma abertura para um terceiro o qual se suspeita que o companheiro ou companheira deseje. No ciúme projetado, a pessoa não consegue se conter seja em seus atos e começa achar que a companheira o trai, projetando nela o que deseja. Desconfia-se que o outro está me traindo, ainda que não tenha passado ao ato, num estado que denuncia sua insegurança constante e o esconderijo das próprias fantasias. O ciúme delirante diz de uma certeza que o outro o trai, e não há provas que me façam sair desse delírio. Na raiz, argumenta Freud, estaria o desejo por aquele com quem se suspeita a traição, neutralizando isso na acusação de que é minha companheira e não eu que deseja esse terceiro. Neste ponto, nada mais importa que não esse ciúme e se deixa (literalmente) de viver por ele em muitos casos.


Se não é o caso dos famosos boys/girls lixo, então o ciúme pode estar em você, seja por baixa autoestima, medo, culpa ou uma infinidade de razões, que na verdade são sintomas. Sintomas de algo que os desencadeou, paradoxalmente, nos encadeando. Nesse sentido, o Eu cria mecanismos de defesa para nos proteger da dor que ali gerada. Esses conteúdos são excluídos da consciência, colocados para "debaixo do tapete", e assim perdem, momentaneamente, sua energia. Em outras palavras, tratamos de “esquecer” aquilo que foi presenciado. "Tá tudo bem agora". Será?


O problema desse “esquecimento” é que ele só foi ser apenas jogado de lado é que ele ainda está lá, e, por vezes retorna como um sintoma, uma doença. É pura energia a ser canalizada. E quantas formas violentas de canalizar temos visto! As mortes que começaram por ciúmes estão aí.


E é aí que a psicanálise é muito importante enquanto cura pela palavra. Antes de cair preso em si próprio ou mesmo num cárcere superlotado... desprenda-se num divã.

 
  • Foto do escritor: Gabriel Diego Medeiros
    Gabriel Diego Medeiros
  • 23 de mai.

Dia 8 de março, data não comercial, mas de raízes históricas, profundas e sérias, faço o convite a uma reflexão crítica sobre o machismo. Vamos?


Talvez tu estejas pensando: "Mas não sou machista. Jamais!" Será? Numa sociedade que por anos pregou e ainda prega que o homem tem uma postura vital na organização da sociedade enquanto a mulher deve obedecê-lo, será que não precisamos elaborar e assumir nossos machismos para que possamos lidar com isso? Fingir que não existe ou descartar está claramente no campo do impossível ao humano, à medida que sabemos que aquilo que guardamos e não nos implicamos, reverbera em nós e eventualmente retorna.


É pouco conhecido que Freud foi um introdutor de ideias feministas na sua época (séc. XIX - XX), recomendando leituras emancipadoras e de luta das mulheres como um projeto de construção da liberdade em seu sentido mais amplo. Já em meados do século XX, movimentos feministas frequentaram seminários de Lacan para embasar suas críticas à psicanálise clássica como dispositivo antrocêntrico e de subalternação da mulher. Isso fez com que a teoria psicanalítica avançasse, destacando também vários nomes importantes de autoras como Anna Freud, Virgínia Bicudo, Klein e tantas outras.


Mas nem tudo são flores! Acolhendo críticas postuladas por mulheres porretas como Judith Butler, atenta à seu tempo, a psicanálise vem avançando em estudos de gênero que partem dessas críticas muito importantes, por exemplo para (re)pensarmos a questão do binarismo homem-mulher, do falocentrismo, e o quanto estas precisam passar por um processo de reinvenção. Há muito a ser feito.


Reinventar-se, um novo modo de ser. O machismo enquanto algo aprendido e construído, ainda que muito impregnado, é sim passível de desconstrução. Por muitos séculos falamos e falamos, e falo daqui, falo de lá... Logo, o convite agora é que nós homens possamos escutar mais do que falar. Ao lado daquelxs que amas, ao invés buquês e chocolates, ou para além desses, lembrar que esse é um dia de luta e que o contrário do machismo não é o feminismo, mas a inteligência. Como diria Chimamanda: sejamos todos feministas!

 

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